domingo, 26 de agosto de 2007

Esposas desesperadas, amordaçadas e amarradas

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Protesto silencioso por dias melhores.

De repente, seis mulheres sacam tiras de pano pretas de suas bolsas, com seis delas se amordaçam e aos pares amarram os punhos. Abrem uma faixa e realizam um protesto silencioso.
Silencioso, mas o silencioso "grito" da performance das mulheres monopoliza por algum tempo a sessão da CPI do Apagão Aéreo, realizada nesta terça-feira, 21, essa a da Câmara.
Não só atrai a atenção dos jornalistas, mas ecoa fortemente até a mesa, fazendo o relator Marco Maia se dirigir ao fundo da sala para se inteirar sobre que protesto silencioso era aquele.
Eram as integrantes do "Movimento das Famílias dos Controladores por Dias Melhores" com uma faixa -- desenrolada somente após um drible na pressão de um segurança --, que trazia:
"Cerca de 10 controladores de vôo já foram presos e cerca de 20 afastados. Vítimas do abuso de poder. Punidos por falarem a verdade!"

Coordenado pela esposa de um controlador de tráfego aéreo, Lúcia da Silva Pires Padilha, o movimento reúne, aproximadamente, 30 esposas de controladores de Tráfego Aéreo.
Seis esposas do movimento portavam, pendurados nos pescoços, um pequeno cartaz com os nomes dos integrantes da liderança negativa, que foram detidos ou afastados. Foi assim, amordaçadas, com as faces transpirando inconformismo, que chamaram a atenção de fotógrafos e cinegrafistas que faziam a cobertura da sessão da CPI, na qual o sargento da Aeronáutica Carlos Henrique Trifírio Moreira da Silva, presidente da Federação Brasileira das Associações dos Controladores Aéreos, prestou depoimento.
Em entrevista à imprensa, ela afirmou que desde 22 de junho deste ano, controladores vêm sendo afastados ou detidos. O motivo da "perseguição", segundo a manifestante, são questionamentos às ordens de superiores que tecnicamente não eram viáveis por conflitarem com normas do tráfego aéreo, ou as denúncias das deficiências do sistema à imprensa. De acordo com ela, os fatos vêm provando a veracidade das denúncias, mas o Comando da Aeronáutica não permite que o MP tenha acesso aos documentos que provam.
Em meio ao protesto, o relator da CPI, Marco Maia, foi até o fundo da sala onde ocorria o movimento pacífico para se informar dos acontecimentos. Na conversa testemunhada por repórteres das principais redes de TVs, e de rádios, o relator pediu que Padilha documentasse as reais condições em que se encontram os controladores detidos, "condições precárias, sem comunicação com os familiares", enfatizou a manifestante. Pelo menos, os três que estão detidos em Manaus passam pelo tratamento nada VIP. Ela se comprometeu a produzir e entregar o documento à CPI. Questionada se a Aeronáutica abandonou os controladores, afirmou que "não".

"Ela persegue os controladores", emendou.

Ao término da entrevista, com microfones de diversas redes de TVs, rádios, bem como da TV Senado, Radiobras, já se afastando, ela entregou um documento intitulado

"Evidências de um Poder Paralelo" ao relator.

No documento, assinado pela coordenadora do movimento, ela afirma que há uma manipulação do poder pela Aeronáutica. "Temos algumas evidências de que esta manipulação existe e se materializa principalmente no caso dos controladores de Tráfego Aéreo.
Em outubro de 2006, escrevi uma carta e a entreguei no Ministério da Defesa destinada ao então ministro Valdir Pires.
Nela eu relatava resumidamente meus anos de testemunha em relação aos problemas dos CTA's (como são chamados os controladores). Eu dizia ainda que, se ele quisesse saber o que se passava no tráfego aéreo brasileiro, deveria chegar até os controladores, porque os seus atuais informantes informavam de acordo com seus próprios interesses.
Até hoje eu não sei se ele leu a minha carta, mas ele foi até lá e ouviu respeitosamente os controladores. Ele reconheceu que os argumentos deles eram legítimos.
Para quê?
Foi "fritado", acusado de quebra de hierarquia e a carreira do ministro acabou.
Por que ele não fez nada?
Porque a "carta branca" estava de posse deste "poder paralelo", o Comando da Aeronáutica."

Padilha afirma que a Aeronáutica desmereceu o trabalho dos controladores e não permitiu a desmilitarização do controle de tráfego aéreo, além da criação da carreira.

As medidas foram extraídas do Grupo de Trabalho Interministerial (GTI), criado pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para resolver a crise.

Padilha coloca no documento que os controladores, hoje, se encontram "revoltados, desmotivados e alguns decididos a organizar sua vida pessoal e dar baixa. Caso o governo não tome uma atitude urgente, a mão de obra mais qualificada não suportará mais tanta humilhação. Esse sofrimento é injusto!

Os brigadeiros estão se vingando das denúncias e atirando para todos os lados."

De acordo com Padilha, o controlador é uma "tragédia pessoal". E explica:

" Há uma real tortura psicológica sobre quem controla vôo no país. Atualmente o principal plano da Aeronáutica é realizar concursos para controladores militares em massa. Os critérios de habilitação de controladores foram flexibilizados, o que aumenta a quantidade de controladores com baixa qualificação. O pior é que os controladores atuais estão sendo duramente intimidados e pressionados a treinarem e aprovarem os novos controladores."

GRAMPO NO TELEFONE

Foi perguntado a Padilha se ela desconfiava de que seu telefone está grampeado.
"Meu telefone está grampeado, eu tenho certeza disso. Toda a vez que tenho algum protesto que eu comento por telefone apenas com as pessoas que trabalham comigo, tem uma pessoa que se diz esposa de um militar que quer participar. Pergunta sempre no dia anterior o que eu vou fazer, o que eu pretendo fazer", respondeu.

Segundo informações constantes no depoimento do sargento Trifírio, as equipes de controladores foram reforçadas por operadores que trabalhavam na Defesa Aérea.
Essa foi a saída da Aeronáutica para substituir os líderes afastados. Tiveram uma capacitação básica e cursos ministrados no sentido da defesa do espaço aéreo.
Assim, não possuem nem experiência e capacitação adequada para trabalhar em plenas condições.
O curso de controlador de vôo durava dois anos, a carga horário foi reduzida para um ano e meio. Houve uma redução de 90 para 20 horas no estágio operacional. Eu não vou questionar,

"alguém assinou isso e vai pagar".

O sistema está no limite", diz Trifírio. O software apresenta ainda o mesmo defeito que induz ao erro os controladores de vôo, porque não dá a precisão na altitude da aeronave monitorada no radar. Há ainda um desequilíbrio psicológico verificado nas salas de controle.

Trifírio enfatizou que a Febracta não reivindica aumento salarial. O que se pretente é dar condições aos controladores para que eles possam proporcionar a segurança no tráfego aéreo.
O sargento afirmou que ama a Aeronáutica, honra a farda, e também ama o controle aéreo civil. E crê que pela sua formação não poderia estar detido e sim prestando serviço como controlador habilitado e experiente.
Também ressaltou que esperava apoio da Aeronáutica, o que na sua opinião não teve. Trifírio destacou que quase no mundo todo, o tráfego aéreo é controlado por civis, as exceções são Eritréia e Brasil.

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