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Caros Amigos,
Na noite do dia 11 para 12 de março p.p. depois de uma tarde difícil entre consultas médicas, vacinas e remédios controlados, fui me deitar com um forte aperto no peito.
A cama parecia não ter colchão, o que me obrigava virar de um lado para outro à espera do sono que demorou a chegar.
Num dado momento, de pijamas e chinelos macios, lá estava eu, de frente para o Presidente Lula que, demonstrando surpresa pelos meus trajes, perguntou:
-"O que é isso, companheiro?"
Tomado de um êxtase extremo, na ansiedade de não perder aquela oportunidade de falar, comecei a balbuciar algumas palavras desconexas que, com o passar do tempo, foram se organizando até ter algum sentido.
E sem qualquer interrupção da parte dele, assim eu lhe disse:
Excelentíssimo Senhor Presidente Lula,Venho até Vossa Excelência, solitariamente, para fazer um desesperado apelo, uma vez que, a visível falta de empenho, tanto do Ministério da Defesa quanto dos Comandos Militares das Forças Armadas, não conseguem convencer a equipe de Governo de Vossa Excelência da nossa triste realidade.
É difícil aceitar essa situação em que as mulheres dos militares têm que tomar a frente da tropa para falar em nome de seus maridos.
Isso me faz sentir um tanto covarde e proxeneta e não coaduna com minha formação militar e, muito menos, de cidadão brasileiro.
É cada vez maior a desesperança em dias melhores, ou pelo menos mais dignos, uma vez que essas constantes provocações administrativas nos fazem engolir em seco na hora de contabilizarmos e compatibilizarmos os gastos do mês com nossos proventos.
Refiro-me às recentes notícias sobre o pífio reajuste que se pretende dar às Forças Armadas.
Bem sabe Vossa Excelência que nós, os militares, não podemos seguir a cartilha do sindicalismo, não temos direito à manifestação pública, tampouco promover greves sob pena de prisão e enquadramento em crime militar.
Mas será que esse é o único expediente que Governo Federal considera?
Porque se assim for, Excelência, mais dia ou menos dia a instituição militar não resistirá a essas sádicas pressões, e em conseqüência romperá os laços de lealdade com os princípios basilares para buscar, ainda que ilegalmente, o que a ela é devido.
Sei que, graças à vossa orientação e formação política, entende bem o que digo, tanto que em março de 2007, após poucas horas de impasse envolvendo controladores de tráfego aéreo, militares, chegou a propor uma gratificação emergencial, sem ao menos aprofundar-se nos méritos da questão.
É bom que saiba também que, durante o "Governo Militar", ao contrário do que muita gente pensa, a tropa do baixo escalão não se beneficiou do "Poder.
" A ingênua justificativa dos comandantes de que "o exemplo deveria vir de cima," só aguçava a ansiedade de seus soldados por dias melhores, sob as ordens de um promissor "Governo Civil".
Ledo engano.
Hoje os ínfimos reajustes salariais que vem sendo prometidos e, ainda assim, nem sempre cumpridos, assemelham-se a migalhas lançadas com pura intenção revanchista.
Acontece que esses revides estão sendo endereçados às pessoas erradas, pois no passado, seus opositores nunca estiveram entre nós, os molambos, mas sim, envoltos em comendas e medalhas, misturados ao grupo palaciano que jamais abandonou a fidalguia e pelo jeito, jamais abandonará.
As Instituições Militares, Excelentíssimo Senhor Presidente, em sua esmagadora maioria, é composta de homens corajosos e valentes, que só recuam se for por estratégia, mas que dão suas vidas por uma causa, se julgarem que ela é legítima.
Não me cabe medir o nível de confiança que os atuais comandantes militares exercem sobre seus comandados, mas com certeza, não fazem por merecer uma coesa admiração.
Ainda que sejam "leões a comandar ovelhas", a hierarquia e a disciplina também têm um preço:
"O respeito mútuo".
E para finalizar, Excelentíssimo Senhor Presidente da República, antes que eu acorde, gostaria que soubesse que, se por ventura este meu involuntário sonho for suficiente para afastar-me do convívio de minha família e recolher-me por alguns dias entre quatro paredes de um quartel, se levar Vossa Excelência a pensar no assunto, já terá valido a "pena.
"- "O QUE FOI QUE VALEU A PENA? HEIM? DEVE ESTAR SONHANDO COM ALGUMA SIRIGAITA!
"Sem entender o que se passava, acordei com minha mal humorada esposa lamentando seu sono interrompido por meus resmungos. Caramba!
Tinha que me acordar bem na hora que o Presidente ia falar alguma coisa?
Virei de lado, dei um suspiro e busquei dar continuidade ao sonho e acredite, consegui.
Mas que pena, de nada adiantou, pois ele tinha acabado de sair em viagem para o Iraque.
Um abraço a todos,
Celso
P.S. - Será que sonhar também é crime?
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2 comentários:
Sinto-me orgulhoso...
... Sinto-me orgulhoso de ver brotar - por não dizer que já sabia do existir; pessoas brilhantes iguais ao Celso. Sinto, no entanto, "por seu sonho - ou seria pesadelo?!" sem resposta, pois, diante de uma realidade que não fere a quem de direito, tão pouco atinge a sensibilidade dos "sangues azuis, olivas ou seja qual for a cor da exclusividade e pretensão"- o que dizer de um delírio febril?!
Um dia, um amigo/irmão me aconselhava diante dos meus poucos vinte anos de idade: "Garoto, você tem futuro dentro das forças armadas - basta honrar essa farda, pois capacidade intelectual e motivação vejo que você possui de sobra"... Naquele momento foi impossível não conter as lágrimas e, dentro da alma, flamejar: - Serei um exemplo a ser seguido e, diante do que me for esperado, responderei com o dobro da minha possibilidade...
Aquilo me perseguiu até o dia em que reencontrei meu velho "tutor" depois de muito tempo ausente de convívio, posto em uma cadeiras de rodas sem nenhum cuidado específico e tendo que pedir ajuda aos familiares e amigos para completar o tratamento necessário a sua doença degenerativa, visto que lhe faltou o mínimo cuidado por parte da entidade que aquele tanto exautou e defendeu
Hoje, quando olho do lado o uniforme que me veste eu penso: - valeu a pena para aquele HOMEM?!
Ui, Ai, Ui... Vai escrever bem assim lá longe.
Nestas horas cotovelo dói, a inveja sobe e assalta a emoção, mas a constatação da qualidade não é obliterada ( não é lá igual a uma "proxeneta" mas resorve ).
Parabéns, caro Mário Celso.
Forte abraço,
Bemildo.
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